02/12/2014 às 05h00
Valor Econômico - por Nelson Niero e Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
O presidente reeleito da Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais (Apimec), Reginaldo Alexandre, disse ontem que, embora "genéricas", as recentes manifestações do ministro nomeado da Fazenda, Joaquim Levy, indicam a intenção do governo de fazer os "ajustes necessários" na economia no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Para ele, a retomada da confiança dos investidores e o aperfeiçoamento dos mecanismos de governança nas empresas públicas e privadas são indispensáveis para revigorar o mercado de capitais brasileiro após o fraco desempenho de 2014.
"Em 2014 tivemos um ano difícil, com crise de confiança, e a janela de oportunidade não se abriu", disse o executivo, referindo-se à paralisação das ofertas públicas de ações no país no período. Já em 2015, se a futura equipe econômica demonstrar que tem "autonomia e liberdade de ação" e houver a percepção de que "haverá condições" de se fazer as correções de rumo na política econômica, o mercado tende a ser mais ativo, afirmou. Ele participou do 23º congresso da entidade, em Porto Alegre.
Para Alexandre, também foram importantes a afirmação do futuro ministro da Fazenda de que o mercado de capitais terá um papel "cada vez mais importante" para complementar o financiamento da economia brasileira, inclusive para a infraestrutura, e a intenção do governo de estimular as grandes companhias a utilizarem esta opção, segundo o Valor noticiou ontem. "Existe muita liquidez no mundo buscando alternativas de investimento que pode encontrar um bom porto por aqui", disse o presidente da Apimec, para quem os estímulos devem se estender às empresas de médio porte.
Otimista com os primeiros sinais de que a futura equipe econômica vai buscar, "sem mágica", o aumento do superávit primário e a redução da dívida pública, Alexandre reconhece que 2015 será um ano para o mercado superar traumas como a quebra do grupo X, do empresário Eike Batista, e do escândalo de corrupção na Petrobras. Para ele, os episódios deixam um "aprendizado" para os investidores e para as empresas, que precisam reforçar seus órgãos de controle como comitês e conselhos e envolvê-los mais a fundo na aplicação de medidas de governança.
O tema é um dos pontos centrais do congresso da Apimec. A carta final do evento, assinado pelas regionais da entidade, fará "defesa incondicional do aumento efetivo dos instrumentos e governança e controladoria dentro de todos os entes públicos, incluindo empresas estatais de capital aberto, com regras claras para a escolha de conselheiros e diretores, privilegiando capacidade técnica e gestão em detrimento de quesitos eminentemente políticos".
Na mesma linha, o primeiro painel do congresso trouxe à tona o fato de que a Petrobras, mesmo com todos os níveis de controle interno de que dispõe, foi vítima do bilionário esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. Para João Verner Juenemann, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e conselheiro de Forjas Taurus, os integrantes de comitês e conselhos precisam de "dedicação brutal de tempo" e de condições de se abastecer de informações técnicas. "Precisa ceticismo permanente para aprofundar, insistir, reclamar e criar problema, no bom sentido."
Segundo o presidente da Apimec, outros fatores que comprometeram a economia e o mercado de capitais no país em 2014 foram a desvalorização global das commodities, a alta da inflação, a desaceleração da economia, a "opacidade" das contas públicas e a "frustração" com a geração de superávit pelo governo federal. Agora, a reversão do cenário requer confiança nos ajustes macroeconômicos e ainda medidas "criveis" no campo da microeconomia, como simplificação tributária e desenvolvimento de uma política industrial.
Conforme a carta do congresso, o governo também precisa aumentar a "eficiência do gasto público" para aumentar a capacidade de investimento do Estado com redução da carga tributária e "queda sustentável" das taxas de juros no país. O documento defende ainda mais qualidade nas despesas com educação, incluindo capacitação dos professores e avaliação de desempenho voltado à "meritocracia" para ampliar "produtividade da sociedade brasileira".
Durante o congresso da Apimec, que termina hoje, o Valor recebeu pela 14ª vez o prêmio como melhor veículo de comunicação na cobertura do mercado de capitais.
Leia mais em: