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As regras do jogo protegem quem investe em bolsa? |
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Por: João Sandrini, São Paulo
Queixas de acionistas minoritários em operações da Oi, do UOL e da Petrobras mostram que os controladores ainda têm poderes demais no mercado brasileiro
Imagine um investidor que, ao final do ano passado, fez a leitura correta do mercado e entendeu que os países europeus teriam profundas dificuldades para pagar suas dívidas e que era a hora de comprar apenas ações defensivas, como de empresas de energia e telecomunicações. Agora imagine que o mesmo investidor fez a análise fundamentalista dos papéis em circulação no mercado e chegou à conclusão de que a maioria já estava cara, mas descobriu que havia empresas como a Oi e a Brasil Telecom que ainda eram negociadas a preços bastante atrativos.
Por ter feito seu trabalho direitinho, ter antecipado a crise no mercado e ter garimpado papéis baratos, esse investidor deveria ganhar um belo dinheiro neste ano, correto? Errado. A crise na Europa veio, a maioria das ações da BM&FBovespa caiu, muitos papéis de energia e telecomunicações geraram um retorno bem maior que a renda fixa, mas a Oi e da Brasil Telecom não foram muito além do péssimo retorno do Ibovespa. E o problema não foi setorial, uma vez que a TIM e a Vivo andaram muito bem na bolsa (veja os retornos obtidos por cada ação na tabela abaixo):
Empresa de telecom Desempenho das ações na Bovespa neste ano (até o dia 26/09)
TIM | 28% |
Telesp | 25,90% |
Brasil Telecom PN | -4,40% |
Telemar N L PNA | -15,80% |
Telemar PN | -20,50% |
Telemar ON | -32,20% |
Por que então a Oi e a Brasil Telecom não se beneficiaram da corrida dos investidores por empresas seguras que geram muito caixa e pagam bons dividendos? Para especialistas, a principal resposta a esta pergunta está na falta de governança da companhia. Procurada, a Oi não quis se manifestar.
A Oi anunciou em maio que faria uma operação para simplificar sua estrutura societária. O grupo possui hoje quatro empresas com sete classes de ações negociadas na BM&FBovespa. Após a operação, só restariam dois papéis: Brasil Telecom ON e PN. A mudança aumentaria a liquidez dos papéis da “supertele nacional” e daria mais transparência aos investidores. Na teoria, portanto, o negócio tinha tudo para ser outra fonte de alegria para quem investe. Mas não foi nada disso que aconteceu.
O problema da operação está no laudo de avaliação que estabeleceu a relação de troca dos papéis de todas as empresas do grupo por ações da Brasil Telecom. Da mesma forma que desagradaram os investidores minoritários o valor estabelecido pelo governo para os barris de petróleo do pré-sal na capitalização da Petrobras e o preço fixado pela Folhapar para a recompra das ações do UOL com vistas ao fechamento de capital, a Oi também sugeriu uma relação de troca que é muito mais favorável para os controladores do que para quem compra e vende ações em bolsa.
“Laudos de avaliação são hoje o principal problema do mercado de capitais brasileiro”, diz Edison Garcia, o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec). Ainda que cada uma das três operações acima tenha suas especificidades, em todas os controladores foram bem generosos com eles mesmo ao definir os termos dos negócios. “Vejo um grande problema quando quem corta o bolo também tem o direito de pegar o primeiro o pedaço”, diz Claudio Andrade, sócio da Polo Capital, uma gestora de recursos que está entre os principais acionistas minoritários da Brasil Telecom.
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