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notícias Petrobras contrata duas consultorias para denúncias


Petrobras contrata duas consultorias para denúncias

28/10/2014 às 05h00

Valor Econômico - por Cláudia Schüffner | Do Rio

A Petrobras contratou duas empresas independentes especializadas em investigação para apurar as denúncias feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Conforme apurou o Valor, tratam-se de dois escritórios de advocacia - o brasileiro Trech, Rossi e Watanabe e o americano Gibson, Dun & Crutcher. O objetivo é "apurar a natureza, extensão e impacto das ações que porventura tenham sido cometidas". Um especialista em direito vê a possibilidade de a estatal ficar com o dinheiro encontrado até agora em duas contas de Paulo Roberto Costa (cerca de US$ 25 milhões) que será repatriado. As autoridades que conduzem a operação Lava-Jato calculam que foram desviados R$ 10 bilhões.

A notícia trouxe poucas informações sobre as ações práticas que estão sendo tomadas pela presidente da empresa, Graça Foster. Ela tenta elucidar os fatos que, segundo a Justiça, permitiram que a maior empresa da América Latina se tornasse presa fácil de um grupo que abriu que espaço em seus investimentos bilionários por meio de práticas corruptas e financiamento de partidos políticos.

Nada se sabe ainda sobre a extensão das investigações de Graça nem os efeitos práticos no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. E nem o impacto material dessas investigações sobre a companhia.

Uma das razões que pode explicar o colapso das ações no Brasil e no exterior é a falta de perspectiva. Ontem as ações entrarem em leilão por queda superior a 15% e fecharam com queda de 12,33% e 11,34%, as PN e ON, respectivamente. Ainda não há sinais de Brasília sobre a redução da influência do PMDB no setor de energia e na Petrobras. É bom lembrar que esse é o partido do vice-presidente da República, Michel Temer, reeleito domingo. Até que essas questões fiquem mais claras, Graça Foster estará enxugando gelo ao tentar convencer o mercado de que os problemas terminaram.

Um executivo ouvido ontem sentia falta de definições no Ministério de Minas e Energia, ocupado hoje por Edson Lobão (PMDB-MA). Ele é cita como um dos "agentes políticos" citado como um beneficiários do esquema pelo ex-diretor da Petrobras e que continua no cargo.

Na parte operacional, a Petrobras continua com velhos e novos problemas. A bilionária campanha de perfuração no pré-sal continua e ela deve finalmente fechar o ano com um substancial aumento da produção, embora menor que os 7,5% previstos. A incerteza sobre a política de reajuste de preços continua. Agora a Petrobras se depara com uma queda de preço do petróleo, que afetará suas receitas quando ela finalmente começa a "entregar" o aumento prometido na capitalização, em 2010.

A estatal precisa hoje de empréstimos para captar 40% do que investe e isso dá ideia do impacto de uma queda de receitas em seu plano de investimentos. Um aumento da cotação do dólar vai piorar os indicadores da dívida e com o "Brent" cotado na faixa de US$ 85 o plano de investimentos não se sustenta.

E ainda não está claro o comportamento dos preços no próximo ano. Ontem o Goldman Sachs reduziu suas previsões para os preços do barril de petróleo no primeiro trimestre de 2015, com a estimativa para o Brent baixando de US$ 100 para US$ 85 o barril. A consultoria Eurasia menciona três fatores que podem ajudar os preços a se recuperaram: cortes na produção da Arábia Saudita em torno de 500 mil barris ao dia; a reversão da saída da Líbia do mercado (dois grupos disputam o controle da produção que é exportada pelo país); e as sanções mais duras contra o Irã, que podem inibir exportações.

Se a produção da Arábia Saudita, Líbia e Irã ficar estável ao longo do primeiro semestre de 2015, sem mudanças radicais na produção ou demanda, a Eurasia prevê que o mercado passe do atual estado de excesso de oferta moderada para um cenário de excesso de oferta bruta, em torno de 1,5 milhão de barris diários.

Nesse caso, o preço do petróleo pode cair para a faixa de US$ 50 a US$ 60 por barril. Os efeitos dessa cotação hipotética para importadores e exportadores é relevante. "Se essas suposições forem incorretas, os preços provavelmente vão cair ainda mais, com implicações significativas para os principais exportadores e importadores de petróleo dos mercados emergentes", escrevem os analistas Alexander Kliment e Gred Priddy, da Eurasia.

Dos cenários que podem ajudar a elevar o preço, o único que já aconteceu em escala menor foi o corte anunciado pela Arábia Saudita, de 328 mil barris, segundo fontes mencionadas por uma agência de notícias. No caso de um colapso de preços, a consultoria lista a Arábia Saudita e a Rússia como os países exportadores com maior capacidade de absorver os impactos considerando os preços do barril que balizam os respectivos orçamentos anuais. Para 2014 a Arábia Saudita prevê cerca de US$ 80 para o barril e conta com US$ 735 bilhões em reservas internacionais. Outro país capaz de suportar a queda por mais tempo é a Rússia, com reservas de US$ 409 bilhões.

Na outra ponta, os efeitos sobre Venezuela serão negativos, já que as reservas do país estão em US$ 20 bilhões e a previsão de preço no orçamento é em torno de US$ 60 por barril. No caso do México a avaliação é que uma queda da commodity pode colocar em perigo as reformas do setor energético, inviabilizando investimentos no próximo ano.

Entre os importadores, o maior beneficiário é a China, que terá uma queda de custo com as importações de 6 milhões de barris de petróleo por dia, reduzindo a necessidade de subsídios.

Outro ponto positivo apontado pela Eurasia é que a queda de preços vai aumentar receitas, consumo e investimento das empresas chinesas, facilitando uma reforma dos preços da energia.

Listado entre os importadores, o Brasil sofrerá impacto negativo com uma queda dos preços. A Eurasia destaca que, no curto prazo, ela diminui a pressão dos combustíveis sobre a inflação, o que também ajuda a Petrobras a recuperar perdas com subsídios.

"Mas no contexto mais amplo de redução dos preços das commodities, uma presidente [Dilma] mais fraca terá pouco espaço para fazer ajustes positivos. Além disso, baixos preços do petróleo tornarão mais difícil atrair investimentos para desenvolver as reservas de petróleo do pré-sal", prevê a consultoria.

Christopher Garman, vice-diretor de Pesquisa da Eurasia e estrategista para mercados emergentes disse ao Valor, que a presidente Dilma Rousseff vai encontrar dificuldades políticas a partir de agora, diferentemente do que ele chama da aprovação binária que teve antes das eleições.

"Dilma não vai ter capital político para tomar decisões duras. Vai ser um mandato com dificuldades políticas. Essa é a natureza de um segundo mandato. Já um ambiente de preço de petróleo menor pode ajudar a reduzir os subsídios, facilitando a criação de uma regra de reajustes, o que diminui o risco político [da Petrobras]. Aí se pode criar algum tip o de regra ou deixar a empresa recompor perdas do passado", diz. Ele frisa que a Eurasia não acredita que o petróleo baixe para US$ 50-60, mas diz que esse patamar coloca em risco a viabilidade comercial do pré-sal.

 

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