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Corte de nota indica limite para Petrobras fazer política pública

 

23/10/2014 às 05h00

Valor Econômico - por Cláudia Schüffner e Fernando Torres | Do Rio e de São Paulo

Até agora usada com alavancagem para uma combinação de programas do governo federal que visam ao aumento dos investimentos, fortalecimento de empresas nacionais de sua cadeia de produção e controle de inflação, a Petrobras já não suporta tanto peso. O rebaixamento pela Moody's da nota da Petrobras em um degrau (caiu de "Baa1" para "Baa2"), com perspectiva negativa, era um movimento esperado e materializa as preocupações de muitos investidores com a estatal.

O cenário adverso que se avizinha no mercado internacional, com possibilidade de os preços do "brent" entrarem em uma espiral de queda pode, contudo, trazer algo bom para a Petrobras. Em primeiro lugar, mostrando aos formuladores da política econômica que o mercado no qual a companhia está inserida não acompanha os indicadores macroeconômicos do Brasil. E em segundo, evidenciando que manter a política disfuncional que engessa a petrolífera pode gerar problemas com potencial de virar um pesadelo para as autoridades monetárias, dado o tamanho da companhia.

A última onda de grande volatilidade e queda dos preços do petróleo, no final dos anos 1990 e início dos 2000, levou a uma consolidação no setor que resultou nas fusões das francesas Total, Petrofina e Elf Aquitaine, das americanas Chevron e Texaco, na absorção da Amoco e da Arco pela BP, e da Mobil pela Exxon, só para citar algumas. Não que seja possível prever algo parecido agora, mas cabe lembrar que a situação financeira da maior companhia da América Latina já está em nível de alerta há tempos. Logo depois de ter protagonizado a maior capitalização da história do mercado de capitais, em 2010, que permitiu a injeção de R$ 45 bilhões no caixa, a Petrobras começou a mostrar piora nos resultados.

O dinheiro que entrou deveria ter sido usado para investimentos e para controlar o avanço da dívida. No entanto, boa parte foi gasta com o pagamento de subsídios para os consumidores de gasolina e diesel, que ajudaram a empresa a ter prejuízos de R$ 59 bilhões na área de Abastecimento desde 2011. Desde então, ela continua sistematicamente a investir 50% a mais do que arrecada com suas operações, tendo investido R$ 366 bilhões de 2010 até o primeiro semestre de 2014, enquanto só gerou R$ 243 bilhões com a venda de seus produtos, provocando um buraco de R$ 123 bilhões que teve que ser coberto com novos empréstimos.

Esse processo levou a dívida líquida da companhia para R$ 241 bilhões ao final do primeiro semestre. Consequentemente, houve uma piora relevante dos níveis de alavancagem desde a capitalização, que tinha como objetivo reduzir esse problema.

Em 2009, um ano antes da megaoferta de ações, a relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) era de 1,22 vez. Em junho deste ano, o indicador havia saltado para 4,07 vezes.

Este ano, se descobriu que parte das obras foram superfaturadas para garantir pagamento de propinas a uma série de agentes políticos e funcionários de alto escalão da estatal, como se soube pelas confissões do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa à Polícia Federal e Ministério Público.

Retirando-se os efeitos políticos e na governança, a situação da Petrobras melhoraria a partir de 2015 com o aumento da produção de petróleo, que elevaria as receitas permitindo gradualmente uma recuperação dos indicadores de alavancagem, que deveria começar a baixar. Agora, a perspectiva de queda do preço do petróleo, combinada com a desvalorização do real, pode adiar o que seria o início de um alívio em 2015, quando a Petrobras vai finalmente "entregar" um aumento de cerca de 8% da produção.

Aumentou o risco de ela administrar uma situação de estresse para pagar dívidas e manter os pesados investimentos na produção de petróleo para chegar a 2020 produzindo 4 milhões de barris, como prevê seu plano estratégico. Portanto, as razões expostas na segunda pela Moody´s para reduzir a nota da estatal, que mantém sua classificação como "grau de investimento", são mais um sinal de preocupação entre muitos, mas não são surpresa.

Em comunicado divulgado aos investidores, a própria companhia resumiu de maneira clara as razões do "downgrade" pela agência: "Na visão da Moody´s, ainda que a Petrobras tenha sido relativamente bem sucedida na execução de seu programa de investimentos e nas suas metas de produção, o aumento do endividamento como consequência da desvalorização do real, perdas no segmento de downstream (abastecimento) relacionadas com a defasagem entre os preços internacionais e domésticos e o aumento da necessidade de financiamento, são fatores que pesam na avaliação. Ainda segundo a agência, os menores preços internacionais de petróleo, se mantidos em longo prazo, poderão ser benéficos para o segmento de downstream, mas afetarão negativamente as operações de upstream (exploração e produção)".

A nota continua dizendo: "Em relação aos investimentos da companhia, a Moody's acredita que, ainda que haja uma redução em 2015, ela não deverá ser suficiente para uma redução acelerada do endividamento, em um ambiente de depreciação do real.

 

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