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SAs veem ações descontadas na bolsa

 

23/07/2014 às 05h00

Valor Econômico - por Fernando Torres, Daniela Meibak e Ligia Tuon | De São Paulo

Para 75% das empresas de capital aberto no Brasil existe uma lacuna entre o que a administração considera que a empresa vale e a percepção externa de analistas e investidores. A informação consta de pesquisa elaborada pela Deloitte, em parceria com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), com 104 profissionais da área de RI, durante os meses de abril e maio deste ano. Segundo a pesquisa, 25% das empresas avaliam que a lacuna é grande, enquanto 50% consideram ela pequena.

O levantamento aponta ainda que o profissional de relações com investidores das companhias é o principal responsável para fechar esse vão de expectativas e tentar levar a cotação dos papéis na bolsa para o que a diretoria e o conselho da empresa consideram justo.

Para 16% dos respondentes, essa tarefa cabe especialmente ao executivo de RI, enquanto outros 55% avaliam que essa responsabilidade deve ser dividida entre ele e os principais líderes da companhia, informou Bruce Mescher, sócio da Deloitte que apresentou a pesquisa, no primeiro dia do 16º Encontro Nacional de RI e mercado de capitais, promovido pelo Ibri e pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), em São Paulo.

De acordo com Geraldo Soares, presidente do conselho de administração do Ibri, se o profissional de relações com investidores já é conhecido pelo seu papel de comunicador, ao divulgar informações financeiras e corporativas a investidores e analistas de mercado, ele deve se tornar mais completo e estratégico quando executar mais a tarefa de trazer de volta, para a administração, a percepção externa sobre a companhia.

Ainda segundo ele, até pouco tempo atrás um profissional de RI era elogiado quando mudava uma nota explicativa no balanço, ou quando melhorava a abertura de informações sobre o negócio aos analistas. "O mais importante agora é que ele traga as avaliações que ouve no mercado para mudar processos dentro da empresa. Para influenciar na estratégia", afirmou Soares, que ressalta a importância de a comunicação com investidores se dê em uma via de mão dupla. "Quando um investidor sugere algo, é porque quer ganhar dinheiro. É para melhorar a empresa."

O executivo lembra que estudos internacionais apontam que um bom trabalho de relações com investidores pode garantir um prêmio de 10% nos múltiplos das ações de uma empresa, enquanto um mau trabalho poderia gerar um desconto de 20%. "Uma diferença de 30%, em módulo, é muito dinheiro em qualquer lugar do mundo", disse.

Segundo o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Leonardo Pereira, que esteve no evento, a missão do profissional de relações com investidores é estar ligado com outras funções dentro da companhia. Isso possibilita, segundo ele, que a atuação desse executivo seja vista como algo integrado. "Como regulador, tenho uma impressão muito positiva quando uma empresa vem à CVM e trás o diretor de RI junto. Ele precisa estar presente na hora de tomar decisões. RI tem a função de fazer mais do que é esperado", afirmou Pereira.

Um dos palestrantes do seminário, Líbano de Miranda Barroso, presidente da Via Varejo, reiterou a importância do profissional de RI estar envolvido nas decisões do negócio. "Nossa crença é que o RI precisa estar em outras áreas, ligado ao planejamento estratégico, comitê financeiro e de custos. Isso facilita o processo de levar informações aos investidores e analistas", afirmou.

Andre Dorf, presidente da CPFL Renováveis, disse que a companhia tenta se colocar no lugar do investidor para direcionar as conversas. Segundo ele, é preciso saber interpretar os sinais que os analistas e acionistas dão e saber "fazer o trabalho em casa". "Atuamos em geração de energia renovável, mas sabemos que no mercado dividimos atenção com transmissoras, geradoras e até mesmo com a NTN-B no mercado de renda fixa. É preciso estar atento para direcionar as discussões."

Segundo Marcelo Castelli, presidente da Fibria, o departamento de RI faz um planejamento anual para definir a atuação de cada área da empresa para atingir as metas. "Nossa equipe de RI tem três dimensões. A primeira é a capacidade de olhar o mercado, com encontro com analistas e tour com investidores. Em segundo vem a análise externa da equipe de relações com investidores, seguida pela escolha de um profissional de dentro da empresa para liderar a comunicação com o mercado, pois já sabe tudo o que está acontecendo", disse Castelli.

Para Carlos Lazar, diretor de RI da Kroton, que acaba de passar um processo de fusão, o foco durante a transação era não deixar nenhuma informação vazar para o mercado. "Agora temos um novo desafio. A base de acionistas quase dobrou e muitos investidores da Anhanguera não eram da Kroton. Então o trabalho agora é detalhar o sucesso da integração", afirma.

A defesa da aproximação da área de RI com a alta administração e as decisões estratégicas, que o Ibri procurou ressaltar ontem no lançamento da campanha "RI cria valor", é mais uma mudança de ênfase do que algo totalmente novo. De acordo com pesquisa da Deloitte-Ibri, em 94% das companhias abertas do Brasil o diretor da área de relações com investidores já participa de reuniões com o presidente-executivo da companhia. E o mesmo levantamento revela que em 81% dos casos o diretor de RI também participa do planejamento estratégico da empresa.

O acúmulo de funções, contudo, pode explicar parte dessa realidade. A pesquisa identificou que 72% dos diretores de relações com investidores acumulam outra função dentro da companhia. Desse subgrupo, 54% são também diretores financeiros das organizações em que atuam, ao passo que 17% são também presidentes executivos e 17% são diretores ou superintendentes de outras áreas.

Entre as áreas que os executivos de relações com investidores consideram que há mais espaço para melhorar aparece a ampliação da base acionária, com 22%, segundo Bruce Mescher, da Deloitte.

Ele destaca, porém, que a tarefa de atrair novos investidores não é percebida pelos mesmos executivos como a que mais cria valor. No primeiro lugar dessa lista aparece o trabalho de "gerenciar, executar e equilibrar as expectativas das partes interessadas", seguido por "gerenciar o fluxo de informações entre empresa e mercado".

Nesse "fluxo", a vice-presidente e diretora de relações com investidores da Mastercard, Barbara Gasper, destaca que é preciso ser sincero em dias de más notícias. "Quando eu trabalhava Raytheon, perdemos dois contratos importantes e nossas ações caíram pela metade em um dia. Fomos transparentes com o mercado sobre o motivo, informamos as providências que estávamos tomando e passamos confiança aos investidores", conta. Para ela, o diálogo do RI, neste caso, foi imprescindível para gerir a crise.

 

 

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