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Maioria das ofertas de aquisição é liderada por controlador estrangeiro

25/06/2014 às 05h00

Por Natalia Viri e Tatiane Bortolozi | De São Paulo

Um fator em especial chama atenção no movimento de ofertas públicas de aquisição neste ano: boa parte das operações têm sido conduzidas por controladores estrangeiros. Especialistas ouvidos pelo Valor apontam, de fato, uma mudança na direção do capital. Passada a fase mais crítica da crise financeira, as bolsas de economias desenvolvidas têm mostrado desempenho melhor do que a brasileira, o que sinaliza que os investidores estão mais dispostos a pagar mais pelos ativos lá fora.

"Na Espanha, por exemplo, com a recuperação da economia, você tem um investidor querendo pagar um múltiplo maior do que na bolsa brasileira, o que justifica a decisão dos controladores de concentrar integralmente a participação nas subsidiárias", diz Carlos Alberto Rebello, diretor de regulação da BM&FBovespa. Segundo ele, o movimento é pontual e esperado em momentos como o que atravessa a economia doméstica.

Além da operação bilionária do Santander, a fabricante de autopeças Autometal, também de controle espanhol, pretende sair da bolsa, assim como a incorporadora Brookfield, controlada por canadenses. A Coelce, de energia elétrica, também foi alvo de uma oferta voluntária por parte da controladora indireta Endesa, da Espanha, que comprou R$ 579 milhões de ações em circulação. A ideia é concentrar as participações em energia na chilena Enersis, que recebeu uma injeção de recursos de US$ 6 bilhões no ano passado.

Já a Companhia Providência deve deixar a bolsa por conta de uma oferta feita pelos americanos do Polymer Group. Eles compraram o controle da companhia em janeiro, por R$ 556 milhões, e, por exigência do Novo Mercado, vão estender a oferta aos minoritários, numa operação que deve movimentar mais R$ 225 milhões. Na mesma tacada, vão fechar o capital da empresa.

A maior parte das companhias envolvidas nessas operações entrou na bolsa a partir de 2006, num momento em que o mercado doméstico tinha mais liquidez e permitia colocações de preços mais atrativos do que nos mercados desenvolvidos. Agora, o movimento se inverteu. Na Espanha, a recuperação começou em 2013 e segue neste ano, ajudada pela demanda externa. Nesse contexto, o país europeu, que não havia registrado nenhuma estreia na bolsa no ano passado, soma quatro aberturas de capital em 2014, enquanto aqui continuamos no zero a zero.

Para se ter ideia da redução da importância dos emergentes ante os países desenvolvidos, dados compilados pela consultoria Dealogic mostram que a China liderou as aberturas de capital em 2010 e 2011, mas perdeu o posto nos anos seguintes para os Estados Unidos. A França supera, nos primeiros seis meses do ano, o volume arrecado com IPOs em cada um dos três anos anteriores.

Essa diferença entre os momentos de mercado é sentida nos preços das ofertas públicas de aquisição no Brasil neste ano. Todas as operações envolveram prêmio em relação às cotações mais recentes, mas, apenas no caso da Autometal, o preço proposto por ação é maior do que o de estreia na bolsa.

Marina Corrêa Lemos, da consultoria financeira Capitânia, afirma que esse é um bom momento para quem está disposto a comprar. "O mercado está muito avesso ao risco aqui e bons negócios às vezes não são bem avaliados", ressalta.

Para Mauro Cunha, presidente da Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec), as diferenças de preço podem ser atribuídas mais à perda de confiança dos investidores no mercado do que às condições macroeconômicas. "Até que ponto não estamos vivendo o mesmo problema dos anos 90, de não ter abertura de capital porque os investidores não confiam nas garantias do mercado?", questiona.

A criação do Novo Mercado, em 2002, deu mais proteções aos minoritários e contribuiu fortemente para a retomada dos IPOs na década passada. Mas, para Cunha, essas garantias podem estar ficando para trás. "O investidor está tendo dúvidas quando vê transações, inclusive no Novo Mercado, em que o minoritário fica com uma fração economicamente menor do que achava que tinha e pede um desconto maior na hora de comprar a ação", afirma.

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